Abstract
Este trabalho tem por objetivo analisar, na obra poética de Pedro Tierra, os impactos da tortura e das agruras provocadas intencionalmente pelos militares, além de fomentar a compreensão sobre os movimentos libertários cunhados na escrita de poesia no contexto do cárcere – especificamente a partir da leitura de Poemas do Povo da Noite (1979). O presente artigo, portanto, percorre o trajeto etimológico e judiciário do vocábulo tortura e a sua edificação histórica enquanto mecanismo de manipulação e controle dos corpos estruturantes da sociedade, tanto o arcabouço propriamente humano quanto a representação estatal, como soberania simbólica. Para isso, será realizada a análise do poema “Açoite”, de maneira a pôr em evidência os processos de elaboração linguística, a partir de recursos estruturais da poética, no panorama social do autoritarismo. Observa-se, assim, que os traços desejosos de anseio pela liberdade dispostos em versos revelam a interna motivação psicológica do eu-lírico pela ultrapassagem da violência imposta pelos militares. Como embasamento teórico-referencial do trabalho, serão discutidas as contribuições de autores como Jaime Ginzburg, Maria Rita Kehl e Márcio Seligmann-Silva.
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