Gestão passiva, fundos de índices e investimentos responsáveis: o caso de frigoríficos listados na B3
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Keywords

investimento passivo
fundos de índice de mercado
sustentabilidade
pecuária
financeirização

How to Cite

Mundo Neto, M., Donadone, J. C., Cândido, S. E. A., & Ertürk, I. (2023). Gestão passiva, fundos de índices e investimentos responsáveis: o caso de frigoríficos listados na B3. Cuadernos De Educación Y Desarrollo, 15(9), 8315–8339. https://doi.org/10.55905/cuadv15n9-020

Abstract

O objetivo deste artigo é analisar em que medida a operação de investimentos por meio de Fundos de Índices de Mercado (ETFs – Exchange Traded Funds) dificultam a transparência e a responsabilização social e ambiental dos investidores por efeitos concretos do seu financiamento de atividades empresariais. Os ETFs são denominados fundos de gestão passiva por rastrearem índices de mercado, inclusive os índices de sustentabilidade ESG. Grandes gestoras de investimentos têm dominado o mercado de fundos de índices e simultaneamente ocupado posição acionária minoritária em milhares de empresas de capital aberto, conforme indicado em estudos recentes. Com base nos dados disponibilizados pela B3, foram analisados nove fundos de índices, cinco que rastreiam o Ibovespa e quatro que rastreiam índices de sustentabilidade ESG. Para compreender as implicações concretas do uso desse dispositivo por investidores institucionais, analisamos suas implicações nas ações de movimentos que têm buscado influenciar o campo financeiro para restringir investimentos em grandes frigoríficos envolvidos no desmatamento ilegal da Amazônia pela atividade pecuária. Os três maiores frigoríficos brasileiros foram incluídos em nossa análise: JBS, MARFRIG e MINERVA.  Para cada fundo foi identificado a proporção de recursos captados ligados a essas empresas. Verificou-se que os fundos de índices ESG ainda são muito genéricos e, em grande parte, são renomeações de índices já existentes. A somatória do patrimônio líquido desses fundos (R$ 257,3 milhões) é 1,11% da somatória dos ETFs que rastreiam o Ibovespa (R$ 23,12 bilhões). O conjunto de dados indica como os ETFs que rastreiam o Ibovespa contribuem para a captação de recursos para as empresas que fazem parte do índice, mesmo na situação em que a empresa não faça parte do portfólio de investimentos diretos das gestoras dos fundos. Segundo as gestoras, o sucesso dos ETFs está relacionado à facilidade de negociá-los, à diversificação de investimentos, à redução de riscos, ao baixo custo, à opção para investir em diferentes mercados e à informação oferecida pelo índice. Porém, quando cobrados sobre porque não retiram investimentos de empresas com má conduta ambiental, social ou de governança, uma das lideranças do setor justifica que a estrutura dos fundos de índices impede que as empresas denunciadas sejam excluídas de seus portfólios de investimentos, como declarado pela Blackrock. Os fundos de índices garantem enorme poder às grandes gestoras de investimentos e os índices de mercado garantem às empresas das carteiras tanto grande volume de recursos, exemplificado pelo Ibovespa, como legitimidade, ilustrada pelos índices ESG.

https://doi.org/10.55905/cuadv15n9-020
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